segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fazendo Birra

A combinação da falta de autoridade com a descoberta da birra pode deixar a vida dos pais complicada. Saiba como lidar
Kátia Mello


Virar gente não é fácil. Principalmente quando você está começando a crescer, a formar pensamentos em sua cabeça, a descobrir o que você gosta e o que não gosta, o que quer e o que não quer. Mas é também nessa hora que você descobre que realizar todos os seus desejos pode ser complicado. E descobre que basta gritar e se jogar no chão para que seus pais te dêem o que você deseja. Esse é um dos problemas enfrentados pela maioria das famílias com crianças pequenas: as birras. Carregados de frustração e querendo ser atendidos, os pequenos podem fazer cenas terríveis, independente do lugar em que eles estão e do que estão pedindo.

“As crianças mimadas podem se tornar ditadoras e gostar de dobrar a vontade e a decisão dos pais. Elas reconhecem a fraqueza dos pais e usam isso em seu favor. Superproteger os filhos costuma ser um erro grave, porque eles não aprendem a enfrentar os traumas e as dificuldades da vida”, ensina o espanhol Javier Urra, doutor em psicologia infantil e autor do livro “O Pequeno Ditador” (sem edição no Brasil), que trata de crianças mimadas. Segundo a pedagoga Carla Lippi, é entre um ano e um ano e meio que a criança começa a ter noção de manipulação. “Crianças crescem e aprendem testando limites. Do mesmo jeito que elas sabem que agradam os adultos sendo boazinhas, percebem que podem usar a birra para conseguir o que querem”, descreve.

Um dos principais problemas nesta relação entre a criança que grita e os pais que cedem está nos próprios progenitores, que não conseguem impor limites ou cedem toda vez que as crianças se comportam dessa maneira. “É necessário ser firme, mesmo com a sensação de que a criança está com raiva de você. Ceder a cada desapontamento cria uma pessoa que não suporta frustração, com dificuldades de se relacionar. Outro ponto a ser respeitado: os pais nunca podem discordar na frente da criança. Se um diz ‘sim’ e o outro ‘não’, a criança tende a enveredar para o lado que está cedendo, deixando o outro lado sem autoridade”, ensina a educadora Sónia Tavares, autora de “Como Lidar com as Birras”.


Controlar os ataques de birra depende da força de vontade dos pais. “Os caprichos resultam de uma combinação do temperamento da criança com a educação que recebe. Os pais têm de ajudar a criança a aprender outras formas de expressar sua vontade, porque existe o risco de que esses caprichos se tornem cotidianos e um traço da personalidade no futuro”, defende Sónia Tavares. Para ela, é possível prevenir birras. “Se a criança fica manhosa cada vez que sente fome, carregue lanches. Se faz capricho quando tem sono, estabeleça o horário do cochilo. Se a criança se cansa demais também tende a fazer birra em algum momento. Ao notar que ela está excitada demais, troque a atividade por outra mais calma, para que se reestabeleçam as emoções normais”, orienta a educadora.

A opinião é endossada pelo psicoterapeuta Roque Theophilo, que acredita que a melhor maneira de lidar com crianças birrentas é impor-lhes disciplina. “Deve haver regras claras do que pode e do que não pode. A coerência de atitude é o ponto básico de respeito e cumprimento dessas regras”, escreveu em seu artigo “A Criança Mimada”. Além de haver regras a serem respeitadas, é importante que a birra nunca seja recompensada. “Se a criança fizer birra, por qualquer motivo que seja, nunca a recompense. Não ceda aos caprichos dela. Isso tornará o comportamento birrento repetitivo”, diz Carla Lippi.

E castigar, adianta? “Não sou a favor de castigo, mas de fazer com que a criança reflita. Muitos pais, passada a crise de birra, não voltam ao assunto. O correto é falar sobre o ocorrido, explicar por que ela não foi atendida e pedir que isso não se repita. Com as crianças que eu educo, eu crio o ‘cantinho da reflexão’, que é o lugar em que elas são obrigadas a ficar por alguns minutos para pensar no que fizeram. Mas são só alguns minutinhos e depois deve-se voltar ao assunto, senão a criança pode se sentir perdida”, ensina a pedagoga.



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