O Céu é o Limite
Problemas há na vida de todos. O que muda é o modo de enfrentá-los. A palavra-chave é superação. A seguir, histórias incríveis de quem virou o jogo, como o ex-lixeiro que levou medalha de ouro no Pan e um corredor com pernas artificiais
Kátia Mello

Não ter identidade ou o corpo imperfeito não impediu que o rapaz emocionasse o mundo com sua bela voz e sua história de superação. Pelo contrário. A história de Emmanuel inspira todos os dias milhares de pessoas que não desanimam diante dos problemas que a vida apresenta e mostram que são resilientes.

“Entrei na escola só aos 9 anos, porque não me aceitavam. Até que uma amorosa diretora me aceitou. A escola tinha diversos degraus que eu subia de joelhos, sentada ou carregada, mas era uma imensa alegria estudar. Faltava muito às aulas porque vivia internada e fazia fisioterapia, ou porque não tinha como me locomover até lá, pois não tinha cadeira de rodas. Comecei a trabalhar aos 13 anos, vendia de tudo. Nessa época, ia pra escola de carona com um vizinha e chegava 2 horas mais cedo. Usava esse tempo para ajudar outras crianças na lição. Comecei a dar aulas particulares. O valor era pouco, mas eu não dependia mais dos meus pais. Na faculdade, enfrentei o medo, a solidão, o preconceito e a falta de apoio, mas também muitas mãos amigas me acolheram. Eu tinha duas escolhas:: passar a vida reclamando, ou tentar ser feliz. Escolhi ser feliz”, relata Maria Dolores.
O suporte social é muito importante no momento da dor. Amigos e familiares estão diretamente ligados à felicidade. “Quanto mais gente te apoiar, maior é a chance de superação”, diz a psicóloga Lilian Graziano, doutora em psicologia pela USP e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC).

“Foram 8 meses só pra acertar a cadeira e mais 2 anos e meio treinando. Então nosso técnico falou que tínhamos potencial para disputar olimpíada. Nosso barco é adaptado e, quando chegamos na eliminatória, tivemos 3 ou 4 dias de treino em um modelo diferente. O vento também era mais forte. Mas conseguimos”, conta Bruno. A dupla forma a primeira equipe paraolímpica brasileira na modalidade Skud 18 de vela adaptada.
Bruno se acidentou em 2006 e passou 8 meses no hospital. Quando acordou do coma, a pior notícia não foi a de que estava tetraplégico. “Nunca fiquei desesperado. Triste foi saber que eu tinha perdido meus amigos Weverson e Natália” (que estavam com ele na hora do acidente). “Nunca desanimei. Hoje já tenho algum controle do tronco e força no punho, controlo meu pescoço e meu braço esquerdo. Cada dia é uma vitória”, diz. Já Elaine não ficou confortável com a notícia depois do acidente em 2007. “Foi desesperador. Naquele mesmo dia eu podia andar, dançar e em poucas horas soube que não poderia nem ficar de pé. Passei várias noites chorando e falando com Deus. Com o tempo vi que tinha duas opções: lutar ou atrofiar até morrer. Escolhi lutar. Sabia que teria que enfrentar meus preconceitos, medos e os preconceitos sociais. Aos poucos vi que podia fazer tudo o que gostava antes, que podia realizar muita coisa, que podia ser feliz, era só uma questão de aceitação. Não é fácil, mas a vida teria graça se fosse fácil?”, indaga.


Outra história de superação é a do ex-lixeiro Solonei Rocha, de 29 anos, que foi do trabalho de coletor a medalhista de ouro na maratona do Pan de Guadalajara em só 2 anos. Ele corria 25 quilômetros por dia atrás do caminhão, o que lhe rendeu bom preparo físico. Ele já arriscava algumas corridas até que o médico Mauro Moreira, do time de atletas de Penápolis (sua cidade natal), sugeriu que ele fizesse um teste. Com bom desempenho, foi “adotado” por Moreira, que bancou seu treinamento em Bragança Paulista. “Tenho que agradecer à família Moreira. Sem eles não estaria aqui. Acreditaram em mim quando precisei parar de trabalhar para treinar”, disse o corredor. Quanto à antiga profissão, Solonei nunca esquece. “Não tenho vergonha de dizer que fui lixeiro. Hoje todos os lixeiros e garis do Brasil são medalha de ouro”, falou após a prova.
“O filósofo alemão Friedrich Nietszche (1844-1900) tem uma frase que explica a capacidade humana de se superar: ‘O que não me destrói, me fortalece’. Ou seja, ao passarmos por situações difíceis ou tristes vivências de desamor, as pessoas mudam. Ou a pessoa será destruída ou ela se fortificará”, diz a psicoterapeuta Léa Michaan, autora do livro “Maly – Superação em Forma de Ficção”. “O melhor modo de nos tornarmos mais fortes é tendo contato com a realidade, a dor, para treinar a mente a achar saída para as dificuldades”, diz.
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