quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Anjos da Cidade


Um em cada quatro brasileiros faz trabalho voluntário. Para esse exército do bem é muito gratificante ajudar os outros




Ser solidário, ajudar os outros, fazer mais e melhorar o mundo. Para quase 48 milhões de brasileiros esses são os principais motivos para doar horas de sua convivência familiar, lazer ou descanso para prestar um trabalho voluntário. O número é correspondente a 25% da população do País, quantidade revelada pela pesquisa realizada pela Rede Brasil Voluntário e Ibope, em comemoração ao 10º aniversário do Ano Internacional do Voluntariado, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2001.


As ações desenvolvidas por esse batalhão de voluntários são inúmeras. Desde a mera digitação de documentos até o salvamento de vidas, como fazem médicos que atuam onde não há atendimento de saúde ou em zonas de guerra. Apesar da aparente diferença entre as ações, todas são importantes. “As pessoas só precisam achar uma necessidade conforme sua possibilidade de ajudar. Porque existem necessidades de todos os tipos”, argumenta Maria Lucia Meirelles Reis, diretora do Centro de Voluntariado de São Paulo.


“Nós temos 190 funcionários e 180 voluntários. Imagina se tivéssemos que contratar todas essas pessoas? Não teríamos como”, exemplifica Ivani Raddat De Gregório, diretora voluntária da diretoria de voluntariado da Fundação Dorina Nowill, que produz livros em braile, falados e digitais,  e os distribui gratuitamente para pessoas com deficiência visual. Entre as possíveis funções exercidas pelos voluntários está a gravação em áudio de livros para que as histórias fiquem acessíveis  aos deficientes. A maioria dos voluntários faz funções administrativas ou participa da organização de eventos. “Eles sabem a importância do que estão fazendo, mesmo sendo esse tipo de trabalho”, diz. “É uma atividade de mão dupla. Você dá e ganha muito de volta.” 


Renata Godinho Brandoli, gestora da Anima, organização não governamental que atua com crianças, jovens e adultos soropositivos (doentes de Aids), afirma que sem o trabalho voluntário esse tipo de entidade não sobreviveria. “Durante 16 anos atuamos com pessoas que vinham até nós, mas nada fidelizado. Hoje fazemos capacitação das pessoas que nos procuram. Tem muita gente querendo ajudar”, conta.


A atriz Beth Rizzo, 42 anos, estava começando sua vida profissional quando resolveu dedicar parte do seu tempo a crianças e idosos internados em hospitais. “Minha mãe fazia trabalhos voluntários, mas eu resolvi fazer por mim mesma, quando me formei em artes cênicas e comecei a me perguntar o que eu poderia fazer para ajudar”, conta. Atualmente, ela usa suas habilidades como atriz para interpretar histórias. “É tão gratificante. Um sorriso, um minuto da sua atenção faz tanta diferença para quem está precisando. E não faz bem só para quem é o alvo da ação, faz muito bem para quem faz também.” Ela compara a satisfação que obtém com sua atividade profissional e a voluntária. “Eu realmente amo o que eu faço, mas a sensação de ajudar alguém, de se doar é maravilhosa.”




Robert Greathouse, de 25 anos, descobriu ainda criança qual seria sua profissão, graças ao trabalho voluntário. Seus pais coordenam trabalhos sociais e levavam o garoto para ajudar na comunicação entre médicos estrangeiros com brasileiros moradores de comunidades carentes. “No começo eu não gostava. Mas fui me interessando e depois escolhi ser intérprete profissional.” Agora, adulto e livre da pressão dos pais, Robert continua fazendo as traduções simultâneas voluntariamente. “Para mim é uma experiência muito interessante. Me ajuda a não me desligar da realidade. Me tira da minha caixinha”, explica.


Beth e Robert fazem esporadicamente trabalho voluntário, assim como 46% dos voluntários no País. Outros 13% chegam a dedicar mais de 11 horas a atividades solidárias, como Leonardo Sérgio de Assis Lafiandra, de 26 anos, coordenador do trabalho do Força Jovem da região da Bela Vista, em São Paulo. O grupo reúne jovens voluntários da Igreja Universal do Reino de Deus. “A gente deixa de viver para gente mesmo pela responsabilidade e vontade de ajudar”, diz.


Fernanda Alves, de 32 anos, também dedica quase todos os finais de semana para as atividades do Dose Mais Forte, projeto do Força Jovem. “Eu realmente amo o que eu faço. Dou testemunhos do que eu vivi quando era usuária de drogas, e isso ajuda muito as pessoas. Meu filho sempre me acompanha e fazemos disso parte da nossa rotina”, conta. “Até estranhamos quando a gente passa um fim de semana inteiro em casa”, brinca.


“Eu fiz tanto, tanto, sem querer nada em troca, que consegui um emprego graças a isso”, conta Jéssica Sampaio, de 20 anos, integrante do Se Liga 16, outro projeto do Força Jovem. “Quando  era criança passei por muitas dificuldades, então quis ajudar os outros. Hoje ajudo pessoas a entrar no mercado de trabalho, dou orientações sobre como tirar documentos e isso é muito gratificante para mim.”


Albert Viana, de 41 anos, tinha apenas três gatos antes de resolver abrir sua casa para abrigar gatos abandonado, para providenciar a castração e posteriormente encontrar pessoas que queiram adotá-los. Hoje ele tem 30 bichanos dentro de seu apartamento. “Eu fico muito feliz quando alguém vem aqui para pegá-los, principalmente os adultos, que sofrem mais discriminação. Muitos deles morreriam se não fosse esse trabalho.” A Toca dos Gatinhos, como é chamado o projeto, conta com a ajuda de outros voluntários e doações, mas elas cobrem apenas cerca de 20% dos gastos da manutenção do animais.


Já Felipe Aragonez acredita que as bicicletas podem ser usadas como meio de transporte, mesmo em uma cidade com tráfico intenso e agressivo como São Paulo. Por isso, resolveu ser voluntário do Bike Anjo, projeto que ajuda pessoas que desejam pedalar para se locomover por São Paulo, mas não sabem como ou têm medo disso. “Mostro ruas, rotas alternativas, as acompanho até o trabalho ou outro lugar que elas queiram ir. Eu sou free-lance e consigo adaptar meus horários. Não me custa nada.”

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