domingo, 11 de dezembro de 2011

Batalhas vitoriosas contra o câncer


Para vencer o câncer, a guerra contra a falta de esperança e o negativismo é tão importante quanto o tratamento para alcançar a cura. Cientistas brasileiros dizem estar perto de encontrar uma vacina contra alguns tipos de tumores


Por Talita Boros



Poucas doenças provocam tanto temor quanto o câncer. A imagem do mal que mutila, definha e mata é tão intensa que familiares, amigos e o próprio paciente muitas vezes recebem a notícia da doença com aquela sensação de duelo perdido. O importante é saber se existem mesmo chances de cura. Apesar da representação sombria, o câncer pode ser considerado um recomeço. Ultrapassar as barreiras da doença é uma oportunidade de transformar e restabelecer uma nova vida. Quem sobreviveu à doença, segunda maior causa de morte no Brasil, é considerado um vencedor.


A maquiadora Samira Fouad Salah, de 36 anos, descobriu que tinha linfoma de Hodgkin após passar 6 meses com fortes dores nas costas. Quando um nódulo apareceu em sua axila, Samira decidiu procurar um médico. “Recebi a notícia com tranquilidade. Já tinha uma ideia da gravidade, porque nunca fui de tomar remédios e já estava tomando muitos para as minhas dores nas costas e no nódulo”, lembra. Samira destaca a importância de ter mantido a calma naquele momento. Segundo ela, essa atitude também ajudou a irmã e seu filho Matheus, de 14 anos, a não se desesperar com o aparecimento do câncer.


Após longos ciclos de quimioterapia, a perda de cabelo era esperável. “Tirei de letra. Sou filha de árabe e adoro essa cultura. Então fui na 25 de Março [rua de comércio popular em São Paulo], comprei diversos tecidos e levei a uma costureira para deixá-los com a minha cara”, conta. Para manter o alto astral, Samira diz que sempre ia ao hospital bem maquiada e que encarou esse período como uma espécie de terapia em grupo. “Eu dizia que estava dedicando aquele período para mim, que era a vez de me preocupar comigo mesma. De me cuidar, respeitar e amar. Em nenhum momento me revoltei ou chorei, até agradecia por ter tido a chance de me curar. A quimioterapia para muitos é um tormento, mas para mim foi a salvação. Por isso não liguei do meu cabelo cair”, afirma.


O norte-americano Bernie Siegel, autor do livro “Fé, Esperança e Cura” (Editora Cultrix), que reúne histórias de pessoas que se curaram do câncer, destaca a importância da esperança e da calma para se chegar à cura da doença. “Quando não temos isso, maior é a probabilidade que temos de morrer, devido à influência negativa que as palavras exercem sobre as nossas atitudes, funções imunológicas e os vários níveis hormonais”, destaca. Para o especialista, é essencial que os pacientes fortaleçam as relações com familiares e amigos. “Quando você se cerca de pessoas que ama e compartilha com elas as lembranças criadas ao longo dos anos, você pode ter um tratamento mais feliz. A alegria se encontra nos relacionamentos com as pessoas que amamos, sejam eles familiares, amigos ou animais de estimação. Eles ajudam a nos manter vivos e dão sentido à vida”, diz.


O apoio do marido, filhos e amigas foi essencial para a aposentada Sônia Sanches Ramos, de 72 anos, vencer um câncer no reto e outro no pulmão. “Minhas amigas me ajudaram muito. Me colocavam para cima e sempre acreditaram que eu ia me curar. O apoio do meu marido e dos meus filhos também foi muito importante. Apesar de os meus filhos terem dado um ‘trabalhinho’, já que ficaram um pouco desesperados com a doença”, lembra, entre risos. Apesar das 40 aplicações de radioterapia e 10 aplicações de quimioterapia, Sônia não chegou a perder os cabelos, mas conta que sofreu algumas vezes com os efeitos colaterais do tratamento. “A radioterapia dava muita cólica. Quando estava me sentindo mal, não deixava ninguém vir me visitar. Queria que eles me vissem bem”, afirma.


Para não deixar o medo da doença tomar conta do pensamento, apesar de ter descoberto dois tumores em órgãos diferentes, a aposentada conta que sempre focou na ideia de que iria se curar. “Não teve um dia em que me senti angustiada. Sempre acreditei que ia viver muito ainda. Isso ajuda. Se a pessoa não tem carinho por si mesma, não aguenta o peso da doença. É muito importante pensar positivo”, diz. Para a retirada do tumor no pulmão, Sônia passou por uma cirurgia sem cortes no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), técnica inédita no Sistema Único de Saúde. A terapia consiste em concentrar uma grande e precisa dose de radiação no tumor através de um equipamento, sem nenhum tipo de incisão.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2030 o mundo poderá registrar 27 milhões de casos e testemunhar a morte de 17 milhões por conta do câncer. Até lá, o número de pacientes com tumores deverá chegar a 75 milhões. No mês passado, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), do Ministério da Saúde, estimou que 520 mil casos novos da doença vão ser registrados no Brasil em 2012 (veja quadro na página 15). “O câncer tem aumentado porque é uma doença crônica e a população está mais velha,  urbanizada, sofre menos com doenças infantis e a imunização é nacional. É um paradoxo. Mas agora o brasileiro vive mais e por isso sofre mais com o câncer”, diz Marceli dos Santos, técnica do Inca.




A presidente Dilma Rousseff tratou de um linfoma não Hodgkin em 2009. Na época, o tumor de 2,5 centímetros foi encontrado em sua axila esquerda. Além da cirurgia, Dilma passou alguns períodos no hospital por causa da quimioterapia. Em setembro de 2010, a presidente anunciou que estava curada. Assim como ela, a apresentadora Hebe Camargo lutou em 2010 contra um câncer no peritônio (membrana que envolve o abdômen). Neste ano, ela anunciou a retomada do tratamento, desta vez de forma preventiva. Ambas tiveram queda de cabelo devido à quimioterapia e usaram peruca durante o tratamento.


De acordo com a médica Pilar Estevez Diz, coordenadora da oncologia clínica do Icesp, a previsão é que até 2020, o câncer ultrapasse as doenças cardiovasculares e seja a principal causa de morte nos EUA, apesar do arsenal tecnológico de diagnóstico e tratamento que existe hoje. A cantora Sheryl Crow, a atriz Olivia Newton John (ambas mama) e os atores Robert de Niro (próstata) e Michael Douglas (garganta) engrossam a lista de famosos que se curaram da doença.


Cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais dizem ter conseguido criar uma vacina contra o câncer a partir do Trypanosoma cruzi, protozoário que causa a doença de Chagas. Eles testaram o protozoário em células humanas in vitro e comprovaram sua capacidade de gerar respostas imunológicas contra alguns tumores. Agora, a equipe fará testes em modelos mais próximos de humanos, para comprovar a eficácia da vacina.


Eles estão na luta


Personalidades da mídia e da política constantemente anunciam sua luta contra o câncer ou a conquista da cura. Agora, é a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva travar a batalha contra a doença. Diagnosticado com câncer de laringe, Lula tornou público o tratamento que enfrenta e poucos dias depois do anúncio, divulgou uma foto onde aparece com a ex-primeira-dama Mariza Letícia cortando sua barba e cabelo. O ex-presidente, que tinha a barba como marca registrada, ficou careca e deixou só o bigode. Ele preferiu se antecipar à queda natural dos cabelos, um dos efeitos colaterais da quimioterapia. O diagnóstico da doença foi anunciado no fim de outubro, depois que Lula fez um check-up para avaliar seu estado de saúde no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O ator Reynaldo Gianecchini (foto acima) também descobriu recentemente um linfoma não Hodgkin. A doença, igual à da presidente Dilma Rousseff, atinge os gânglios linfáticos. Gianecchini já se submeteu a todas as sessões de quimioterapia. Agora o ator deve  realizar um autotransplante de medula óssea (doadores não são necessários, porque o procedimento é feito a partir da medula do próprio paciente).

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