sábado, 10 de dezembro de 2011

Leve a Sério: Ria

Cientistas provam que dar risada reforça o sistema imunológico, diminui a dor, melhora o sono e protege o coração. Agora não faltam mais motivos para sorrir




Quando sua avó dizia “rir é o melhor remédio”, ela estava coberta de razão. Diversos estudos estão trazendo luz ao tema e provando que meia dúzia de gargalhadas surte mais efeito do que uma cartela inteira de remédios. Um dos mais recentes , feito pela Universidade de Oxford, na Inglaterra,   mostrou que pessoas que riem sentem menos dor.

“Quando rimos, nosso organismo passa por uma série de alterações biológicas. A hipófise [glândula que produz diversos hormônios] libera opiáceos, hormônios que agem contra a dor e aumentam a produção de células de imunidade. Essa ação faz com que o nível de cortisol, o ‘hormônio do estresse’, seja drasticamente reduzido. No nosso estudo, constatamos uma concentração 27% maior de endorfina [considerada um analgésico natural] nos indivíduos expostos a vídeos engraçados do que no grupo que ficou em uma sala lendo revistas”, conta o médico neurologista Lee Berk, um dos maiores estudiosos do tema, da Universidade Loma Linda, na Califórnia (EUA).



O estudo dos pesquisadores de Oxford foi parecido, porém, um grupo assistiu a comédias e outro a vídeos de golfinhos. Depois, ambos foram expostos a dores moderadas, como suportar um saco de gelo sobre o braço. Observou-se que as pessoas que passaram pela sessão de riso sentiam 10% menos dor.

Esses estudos apenas renovam o cerne de um livro escrito nos anos 60 pelo jornalista Norman Cousin, chamado “Anatomia de uma Doença”. Ao voltar de uma viagem de trabalho à Rússia, onde viveu o início da Guerra Fria, sentiu-se deprimido e desenvolveu uma doença parecida com uma artrite muito poderosa. Qualquer movimento lhe dava dores e, por isso, ele não conseguia mais dormir. Já bastante debilitado, pensou: “Se as emoções negativas podem perturbar um organismo,  podem as emoções construtivas reestabelecer a harmonia?” Foi quando começou sua luta contra a doença. Sua arma? O riso.

“Ele assistia a comédias e todos que o visitavam no hospital tinham que lhe contar uma piada. Ele notou que 10 minutos de boas gargalhadas lhe rendiam 2 horas de sono. Percebeu, também, que suas inflamações estavam diminuindo. Cousins se curou e escreveu o livro, inspirando milhares de estudiosos e seguidores da terapia do riso”, conta o advogado Marcelo Pinto, de 46 anos, que incorpora o palhaço Doutor Risadinha.

Um dos precursores na arte de levar alegria para ajudar doentes é o médico norte-americano Hunter “Patch” Adams, que ficou famoso pelo filme estrelado por Robin Williams nos anos 90. “Patch” não defende o riso, mas o estreitamento entre relações humanas e mais amor entre as pessoas. “Ele levou palhaços a hospitais e acredita no humor, mas defende que são os laços de amizade que nos fortalecem, e que o riso é uma maneira de compartilhar a felicidade com quem você ama. É uma maneira positiva de encarar a vida, sendo solidário, gentil e amável com todos. O sorriso é um parceiro da gentileza”, defende a psicóloga Ana Cláudia de Camargo, que estuda a influência do humor em tratamentos médicos. “Uma pessoa feliz é mais otimista, tem mais facilidade de acreditar na vida e nas coisas boas que ela pode nos proporcionar”, completa.

No Brasil, o mais famoso grupo de intervenção humorística em hospitais são os Doutores da Alegria. “Neste ano, completamos 20 anos de atividades ininterruptas. Com um elenco de 50 palhaços atuando em 22 hospitais, tivemos o privilégio de alegrar mais de 750 mil crianças e ver nascer mais de 500 grupos semelhantes ao nosso”, escreveu o cofundador e coordenador Wellington Nogueira no blog dos Doutores.

É de um desses grupos descendentes que André Sousa Barros, de 32 anos, faz parte. O perfumista é voluntário na organização não governamental Presente de Alegria, que visita asilos, orfanatos, hospitais e escolas, carregando uma farmácia de alegria. “Alegria é contagiante e é o melhor remédio, cura doenças do corpo e da alma. É incrível o poder de transformação que um nariz vermelho traz”, diz André, que atende pelo nome de palhaço Chucrute. Porém, é sempre importante ressaltar que “o riso é um tratamento coadjuvante, não se deve abandonar tratamentos químicos prescritos pelos médicos”, diz o doutor Lee Berk.

Militante do riso cria o Clube da Gargalhada

Em meados de 2000, o advogado Marcelo Pinto percebeu que precisava de uma atividade para diminuir o estresse. Uma amiga sugeriu, então, a “terapia do riso”. Quando começou a pesquisar a respeito do tema, encontrou diversos artigos científicos sobre os benefícios de uma boa gargalhada.

“Montei um site para espalhar esses benefícios. Depois, comecei a fazer trabalho voluntário em um hospital com o palhaço Doutor Sol Riso, mas as crianças só me chamavam de ‘Risadinha’. Foi delas que veio o nome. Depois, vieram palestras, atividades em escolas, livros, trouxemos o Clube da Gargalhada para São Paulo, fundamos o Instituto do Riso, tudo para difundir a prática”, conta.

O Clube da Gargalhada descende do Clube do Riso, fundado na Índia em 1995 pelo médico Madan Kataria e com mais de 6 mil filiais pelo mundo. A ideia é juntar pessoas para gargalhar sem motivo, contando piadas ou não. “Ensinamos até como despertar a gargalhada nas pessoas. Não precisa de motivo pra rir”, afirma o advogado.

Mas o trabalho que tem gerado mais resultados é o projeto “InseRir”, que usa o riso como forma de diminuir o bullying nas escolas. “Uma criança ri, em média, 400 vezes por dia, e um adulto 20 vezes. Se conseguirmos mantê-las contentes vida afora, serão adultos mais risonhos. Além disso, ensinamos a rir com as pessoas, não das pessoas. E, se um amigo te dá permissão para rir dele, você também tem de dar permissão para ele rir de você”, ensina. O trabalho é voluntário e quem quiser participar ou levar o clube do riso para sua cidade pode saber mais pelo site www.doutorrisadinha.com.br.

Os animais também sorriem

Não são só os humanos que têm o privilégio de sorrir. Estudos comprovam que os animais também têm o hábito de mostrar os dentes e emitir ruídos curtos como  forma de sinalizar que estão brincando. “Os antropoides, como chimpanzés, gorilas e orangotangos, retraem os cantos da boca, mostram os dentes e emitem sons altos e repetitivos, parecidos com guinchos. Pesquisas também  revelaram que ratos, ao brincar de morder, também emitem um som que é interpretado pelos outros como risos, assim como os humanos. Eles comunicam ao parceiro que a luta não é séria”, exemplifica a psicobióloga Silvia Helena Cardoso, pesquisadora da Universidade de Campinas (Unicamp). Cachorros, quando estão felizes, colocam as orelhas para trás – o que, em alguns casos, pode dar a impressão de sorriso. Já as hienas, os animais famosos por “gargalhar”, não têm nada de felizes: quando elas emitem esse som é para intimidar o inimigo e mostrar quem manda no pedaço.




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