domingo, 11 de março de 2012

Exercite seu cérebro

Andar, comer e dormir bem, fazer palavras cruzadas, mudar o itinerário do trabalho são atividades que ajudam a potencializar a performance da mente, aumentando a capacidade da memória e a rapidez de raciocínio

Raul Andreucci

Enquanto você lê estas palavras, cerca de 100 bilhões de células nervosas do seu cérebro, os famosos neurônios, estão trabalhando intensamente. A todo momento comandam o corpo e a mente. Sentidos, funções vitais, movimentos, emoções e pensamentos. Talvez você nunca tenha atinado para isso. E, provavelmente, é o que induz você a subestimar o seu cérebro e sua capacidade. "O cérebro é o mediador entre nosso corpo e o meio externo. Todas as funções que ele realiza são realmente essenciais", explica Sonia Brucki, vice-coordenadora do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.

Por isso, nada melhor do que cuidar da mente com carinho. Não só para manter-se vivo e saudável, como para fazer com que funções cognitivas (memória, raciocínio e concentração, por exemplo) tão fundamentais para o estudo e o trabalho sigam em pleno funcionamento.


A receita básica dos especialistas para melhorar as funções cerebrais passa por alimentação saudável, prática regular de exercícios físicos e constante atividade do cérebro. "O convívio social, a diversão e um sono tranquilo também ajudam. O ideal mesmo é mesclar tudo isso", ensina Sonia.

Parece simples, mas não é. "Não fomos treinados para prestar atenção no próprio corpo", diz Luciana Ayer, nutricionista e autora do livro "Nutrição Cerebral". Acabamos comendo produtos industrializados e porcarias sem os nutrientes necessários para as tais 100 bilhões de células do cérebro. "Deixamos de nos nutrir para encher a barriga", lamenta.


É como se o nosso corpo, carente de energia, mandasse o aviso pelo apetite. Buscamos a solução em opções cheias de corantes, adoçantes e conservantes. Substâncias estranhas, tóxicas para o organismo. Em vez de matar a fome das células, ainda obrigamos as coitadas a gastar o que resta para se livrar desse, digamos, lixo.

"Quando isso acontece, o corpo tira energia e gasta nutrientes de funções não tão importantes para a vida acontecer, como a memória, e, por uma questão de sobrevivência, mantém outras imprescindíveis. Assim vamos perdendo vitalidade", diz Luciana.

Os alimentos certos podem ajudar (veja quadro no fim da página), mas só surtem efeito quando são incorporados ao dia a dia. "Devemos evitar falar sobre ‘coma isso para obter aquilo’. Assim restringimos o alimento ao seu efeito farmacológico, e eles são muito mais do que isso. E cada indivíduo é um indivíduo. O feijão pode ser um alimento nobre, mas se faz mal à pessoa, não adianta ficar comendo", alerta.

O norte deve ser a busca do equilíbrio, inclusive no exercício físico. "Se exagerar, o cérebro libera hormônios que diminuem os efeitos benéficos. Praticado moderadamente, é bom para todo mundo", diz Wantuir Francisco Siqueira Jacini, educador físico e autor de estudo em que, comparando judocas a sedentários, analisa as benesses ao cérebro. "Com atividade física, algumas áreas do cérebro aumentam, melhorando a concentração e a memória, principalmente com esportes que exigem a aprendizagem motora. Grosso modo, é como se fizéssemos musculação para o cérebro", compara Jacini.

As pessoas não costumam fazer essa associação entre corpo e mente. Mike Scanlon e Kunal Sarkar perceberam isso anos depois de se conhecerem como calouros na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Scanlon já trabalhava em seu pós-doutorado em neurociência e Kunal estava numa rede de academias. Viram ali a chance de unir os dois tipos de treinamento: para o cérebro e para o corpo. Desenvolveram um método de exercícios cerebrais e, em 2007, lançaram na internet o "Lumosity". O site tem hoje mais de 20 milhões de usuários em 180 países, inclusive o Brasil.

"Usamos o que há de mais novo em neurociência para criar jogos e exercícios que melhoram a performance para diferentes perfis de pessoas, de crianças a avós", diz Joe Hardy, vice-presidente do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Lumosity. Em terras nacionais, a principal representante do segmento é o Supera. A diferença é que o método é aplicado em sala de aula e usa, além de jogos, ábaco e dinâmicas de grupo. A ideia que virou negócio surgiu da busca do engenheiro Antônio Carlos Perpétuo por algo diferente para ajudar o filho com dificuldade de se concentrar no colégio. "O cérebro é muito inteligente, mas é preguiçoso. Diante de um problema, logo procura no arquivo o que já vivenciou e põe no piloto automático. O que precisa fazer é tirar o cérebro da zona de conforto com novidades, variedades e grau de dificuldade crescente", diz Perpétuo, dono do Supera, fundado em 2005 e já com 60 unidades. Antes de recorrer a uma escola, você pode começar sozinho. Há várias atitudes no dia a dia que turbinam o cérebro, entre elas tomar banho de olho fechado, andar de costas e outras atividades que saiam do padrão. Ao ler essa reportagem inteira, você já deu o primeiro passo.

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