Em cena, a arte urbana
Artistas de várias partes do País usam espaços públicos para intervenções que convidam espectadores a fazer uma pausa na rotina das metrópoles
Fernando Poffo

"A gente tenta passar isso, não tem essa de bandeira, queremos que seja praticado e que não esperem a gente fazer. Já vimos nossas ações divulgadas em vídeo em Juiz de Fora, Ceará, Santos, São Paulo e adoramos", comenta Natália, que já replicou no Rio ação feita pelo grupo "Aqui Bate um Coração", de São Paulo, que espalhou corações vermelhos em estátuas, ato reproduzido em Belo Horizonte e Ceará.
O trabalho do "Choque de Amor" e de outros grupos artísticos são vistos em ações que fazem o cidadão não só interagir com a arte, mas participar e ser parte da ação. Em alguns casos, o cidadão acaba sendo a própria intervenção, o que fica claro em ações que incentivam o abraço, a contemplação da natureza e até o descanso ou banho de sol numa faixa de pedestres, por exemplo.

"Talvez as pessoas estejam à procura de uma coisa nova e a arte sempre sugere possibilidades, novos modos de ser. Percebemos que tudo o que fazemos é muito bem acolhido pelo público", comentou, por e-mail o coletivo "Opavivará!", do Rio de Janeiro, que já replicou ações em Salvador, São Paulo, Recife e Brasília. "O próprio fato de ser um coletivo responde a uma demanda da sociedade, que está asfixiada pelo individualismo, pela competição, pela lógica do perde-ganha", completou.
Na capital paulista várias manifestações podem ser vistas em calçadas, muros e pontos de ônibus de diferentes "artivistas". Um dos destaques é a frase "Mais Amor Por Favor". E o caótico trânsito tem ações exclusivas, feitas pelos coletivos "Gentilezas Urbanas" e "Trânsito Mais Gentil", com interferência na sinalização de tráfego. Engarrafamentos também já inspiraram o "Projeto Pare", de Porto Alegre, no qual são aplicados adesivos que estimulam a reflexão nas placas de "Pare", com mensagens como Pare "e sorria" e Pare "e sonhe".

As cidades estão cada vez mais tomadas por intervenções, confirma o crítico de arte e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Fabio Cypriano. "A vida em grandes centros urbanos costuma ser relacionada ao trabalho e à rotina em torno dele", comenta. "Intervenções urbanas são momentos de suspensão dessa rotina e permite aos moradores olhar seu entorno de forma distinta, alterando sua percepção."
A questão do uso do espaço público também está presente em ações que fisgam um cidadão individualmente e mudam o cenário das metrópoles, como fez a artista Ana Teixeira em nove países, incluindo o Brasil, com trabalhos para estimular pessoas a refletir sobre temas como amor, sonho e identidade. "A arte tem a importância de mover a sociedade.", define o grupo "Opavivará!".
O grafite e sua força

Além de estimular o amor e de questionar o uso do espaço público, intervenções artísticas podem ter teor político ou expor o desespero de um povo.
Em 2011, em meio à guerra civil ocorrida na Líbia, opositores do governo de Muamar Kadafi espalharam grafites pelas ruas do país com sua caricatura. O ditador estava no poder havia mais de 42 anos e resistia a deixar o cargo. Foi capturado e morto.
Recentemente, manifestações com o uso de grafites foram espalhadas nas ruas da Grécia, especialmente antes das últimas eleições presidenciais, que ocorreu logo após uma das piores crises econômica e política do país.
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