segunda-feira, 23 de julho de 2012

Em cena, a arte urbana

Artistas de várias partes do País usam espaços públicos para intervenções que convidam espectadores a fazer uma pausa na rotina das metrópoles
Fernando Poffo

A vida nos grandes centros urbanos está cada vez mais corrida e as pessoas quase não encontram tempo para olhar além do próprio celular, mas a arte tem feito sua parte para tentar mudar esse cenário. Basta olhar ao redor para perceber as intervenções artísticas feitas Brasil afora. Ações variadas já fizeram muito transeunte refletir sobre a existência de amor no mundo. "Não é que falte amor às pessoas, falta elas praticarem, dar bom dia, elogiar. Falta as pessoas manifestarem isso com os outros, não só com amigos. Fica uma distância entre seres humanos, uma frieza. Queremos despertar as pessoas a verem como seria melhor a relação se todos se respeitassem, se cumprimentassem e fizessem gestos de gentileza e solidariedade com pessoas, meio ambiente, animais", analisa Natalia Parahyba, do "Choque de Amor", do Rio de Janeiro. O grupo já realizou ações como feira de troca de objetos, arrastão do abraço e uma intervenção em que distribuía pelas ruas missões escritas em um papel em formato de coração. Cada missão cumprida era pendurada em uma árvore. E o "Choque", diz Natalia, adora ver suas ações replicadas.

"A gente tenta passar isso, não tem essa de bandeira, queremos que seja praticado e que não esperem a gente fazer. Já vimos nossas ações divulgadas em vídeo em Juiz de Fora, Ceará, Santos, São Paulo e adoramos", comenta Natália, que já replicou no Rio ação feita pelo grupo "Aqui Bate um Coração", de São Paulo, que espalhou corações vermelhos em estátuas, ato reproduzido em Belo Horizonte e Ceará.

O trabalho do "Choque de Amor" e de outros grupos artísticos são vistos em ações que fazem o cidadão não só interagir com a arte, mas participar e ser parte da ação. Em alguns casos, o cidadão acaba sendo a própria intervenção, o que fica claro em ações que incentivam o abraço, a contemplação da natureza e até o descanso ou banho de sol numa faixa de pedestres, por exemplo.


"Talvez as pessoas estejam à procura de uma coisa nova e a arte sempre sugere possibilidades, novos modos de ser. Percebemos que tudo o que fazemos é muito bem acolhido pelo público", comentou, por e-mail o coletivo "Opavivará!", do Rio de Janeiro, que já replicou ações em Salvador, São Paulo, Recife e Brasília. "O próprio fato de ser um coletivo responde a uma demanda da sociedade, que está asfixiada pelo individualismo, pela competição, pela lógica do perde-ganha", completou.

Na capital paulista várias manifestações podem ser vistas em calçadas, muros e pontos de ônibus de diferentes "artivistas". Um dos destaques é a frase "Mais Amor Por Favor". E o caótico trânsito tem ações exclusivas, feitas pelos coletivos "Gentilezas Urbanas" e "Trânsito Mais Gentil", com interferência na sinalização de tráfego. Engarrafamentos também já inspiraram o "Projeto Pare", de Porto Alegre, no qual são aplicados adesivos que estimulam a reflexão nas placas de "Pare", com mensagens como Pare "e sorria" e Pare "e sonhe".


As cidades estão cada vez mais tomadas por intervenções, confirma o crítico de arte e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Fabio Cypriano. "A vida em grandes centros urbanos costuma ser relacionada ao trabalho e à rotina em torno dele", comenta. "Intervenções urbanas são momentos de suspensão dessa rotina e permite aos moradores olhar seu entorno de forma distinta, alterando sua percepção."

A questão do uso do espaço público também está presente em ações que fisgam um cidadão individualmente e mudam o cenário das metrópoles, como fez a artista Ana Teixeira em nove países, incluindo o Brasil, com trabalhos para estimular pessoas a refletir sobre temas como amor, sonho e identidade. "A arte tem a importância de mover a sociedade.", define o grupo "Opavivará!".

O grafite e sua força

Além de estimular o amor e de questionar o uso do espaço público, intervenções artísticas podem ter teor político ou expor o desespero de um povo.

Em 2011, em meio à guerra civil ocorrida na Líbia, opositores do governo de Muamar Kadafi espalharam grafites pelas ruas do país com sua caricatura. O ditador estava no poder havia mais de 42 anos e resistia a deixar o cargo. Foi capturado e morto.

Recentemente, manifestações com o uso de grafites foram espalhadas nas ruas da Grécia, especialmente antes das últimas eleições presidenciais, que ocorreu logo após uma das piores crises econômica e política do país.

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