domingo, 12 de agosto de 2012

Tal pai, tal filho

Ver um descendente seguir seus passos profissionais é uma honra para qualquer pai. Mas quem faz essa opção tem de conviver com a inevitável comparação
Fernando Poffo

Além de educar e dar carinho, os pais muitas vezes representam exatamente o que os filhos desejam para o futuro. Muita gente leva a sério esse desejo e segue os passos do progenitor ao buscar a formação profissional na mesma área de atuação do pai. Conviver com o ambiente de trabalho desde cedo é uma vantagem para alguns. Para outros, a pressão em razão da inevitável comparação e cobrança, especialmente se o pai for bem-sucedido na profissão, torna-se um peso.

Filho do ex-jogador Bebeto, Mattheus ficou famoso mundialmente com 2 dias de vida, quando o pai comemorou um gol pela seleção brasileira sobre a Holanda, na Copa de 1994, simulando que o carregava no colo. O gesto ficou eternizado e virou tradição entre os jogadores que desejam dedicar seus gols aos filhos. Agora, com 18 anos e já profissional de futebol no Flamengo, Mattheus pensa em fazer o mesmo quando o neto de Bebeto nascer. 

“Fico muito feliz por meu pai ter feito esse gesto na comemoração de um gol que foi marcado num jogo importante de uma Copa do Mundo. Foi um gol importante e a comemoração sem dúvida me deixa muito orgulhoso. Quem sabe lá na frente eu não possa repetir esse gesto quando eu tiver meu primeiro filho?”, falou o jogador, que já foge da comparação com o pai para tentar evitar a pressão por repetir o bom futebol de Bebeto.

"Sempre procuro separar o sucesso que o meu pai fez com minha carreira. Ele teve o momento dele, foi um grande jogador e fez história no futebol, mas agora estou em busca do meu espaço no Flamengo e querendo conquistar meus objetivos”, disse Mattheus, sem esconder, no entanto, que o seu gosto pelo esporte começou com o pai mesmo. “Desde pequeno brincava de jogar bola com meu pai e fui criando gosto. Pintou a oportunidade de fazer um teste para a equipe do Flamengo e decidi fazer. Tive o apoio da família e me senti confiante pra arriscar”, contou o rapaz.

A influência do pai também motivou três dos quatro filhos do cardiologista e ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, a ingressar na carreira de médico. Fabio, Ieda e Marcelo Jatene também são especialistas em coração. “Um dos fatores principais que motivou nossa opção é a forma como papai encara a profissão, sempre com prazer e sem grandes conflitos. Eu enxergava a profissão com positividade e, desde pequeno a gente sempre se envolveu e ouviu assuntos relacionados”, conta Marcelo Jatene.

As filhas do ortopedista Moises Cohen, Carina e Camila, também ingressaram na mesma área em que ele atua, o que o deixa extremamente orgulhoso. “Elas optaram por medicina, se especializaram em ortopedia e foi natural, nunca forcei a barra. Tenho muito orgulho porque, como médico, me cobrava por ficar ausente. Na verdade, essa escolha é um sucesso da mãe, que conseguiu dar uma boa educação na minha ausência e ainda assim eles se encantaram com a minha profissão”, disse Cohen.

“Vemos com frequência maior a influência dos pais em área de saúde, principalmente médicos e dentistas”, comentou o presidente da empresa de recrutamentos Havik, Ricardo Barcelos, que também observa uma boa presença de filhos em escritórios de advocacia, e percebe uma queda dessa prática em grandes corporações, o que muitas vezes é até proibido por regras da empresa. 

“Na atual geração, muitos jovens buscam a realização profissional com mais liberdade de expressão e intelectual, e querem experimentar o que de fato traz prazer, sem essa necessidade de seguir a profissão dos pais”, acrescentou Barcelos.

Sucessão familiar

Seguir os passos do pai deixa de ser uma simples opção quando os jovens têm oportunidade de assumir o comando de uma empresa da família. Nesses casos, a sucessão ainda é bem comum, apesar de ser delicada em razão da necessidade de aptidão, vontade e qualificação dos filhos que vão assumir os negócios da empresa. “A sucessão já tem patrimônio da família instalado e na maioria vezes parece mais atrativa, tem história, legado e de fato o pai sempre vai buscar o filho”, comentou Barcelos.

Carlos Alberto Moelas tem o pai como sócio da franquia de restaurante chinês que mantém em São Paulo e preparou bem o terreno para passar o comando do negócio para os filhos Caio e Breno, de 25 e de 24 anos, respectivamente. Os rapazes se especializaram e já são responsáveis por gerenciar a parte operacional e financeira da loja. “Este é um negócio da família. O envolvimento deles é tão intenso que as carreiras acabaram acontecendo em função do negócio”, explicou o pai, ao contar que Caio optou por fazer faculdade de hotelaria enquanto Breno estudou nutrição.

Satisfeito pelo desempenho dos filhos, Moelas já programou aposentadoria para o fim do mês, e seus planos para o futuro incluem muito descanso, com o orgulho de saber que o trabalho estará sob o comando dos pupilos.

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