quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Megadesigualdade

Apesar do crescimento econômico dos últimos anos, o Brasil está entre os quatro piores em distribuição de renda na América Latina, de acordo com ranking da ONU

Içara Bahia | Arte: Edi Edson


O Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina em distribuição de renda e está à frente apenas de Guatemala, Honduras e Colômbia. A informação integra o relatório inédito “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, divulgado no mês passado pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat). Apesar da péssima posição no ranking, o País conseguiu reduzir as diferenças sociais e deixou de ser a nação campeã em desigualdades na região, título registrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1990. 

O avanço nacional não tirou as cidades de Goiânia, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba de uma lista que as coloca entre as piores distribuições de renda de toda a América Latina. “O maior problema apontado pelo estudo é que as cidades latino-americanas não estão combatendo as desigualdades. Algumas têm os maiores índices de desigualdade do planeta”, declarou o oficial principal de Assentamentos Humanos do Escritório Regional da ONU, Erik Vittrup, durante evento de lançamento do relatório.


O estudo calcula que, ao todo, existem 111 milhões de pessoas morando em favelas em toda a América Latina e no Caribe. No Brasil, 28% da população vive em comunidades com infraestrutura precária. O índice é mais alto do que a média latino-americana, que atingiu a porcentagem de 26%. De acordo com o levantamento, os processos migratórios deixaram de ser só da zona rural para os centros urbanos e passou a ser também entre cidades.

“Essa situação de urbanização corresponde a um modelo econômico e social que é perverso e que expulsa a população do campo para as cidades e das cidades menores para as maiores. As menores estão perdendo população”, afirma o professor de urbanismo da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Luis Antônio de Souza. 

Para o pesquisador e doutor em urbanismo Juciano Martins Rodrigues, o relatório não apresenta novidades diante do histórico do processo de urbanização pelo qual passou a América Latina e o Brasil. “Mas ele não deixa de ser importante, pois traz questões que envolvem o nível dessa urbanização, que aconteceu de forma bastante acelerada. Isso trouxe consequências, uma vez que o desenvolvimento não acompanhou os processos de migração e o crescimento da região”, completa ele, que integra o Observatório das Metrópoles, núcleo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro . 

Além de informar sobre população e serviços urbanos básicos, a pesquisa apresenta dados sobre habitação, urbanização, meio ambiente e desenvolvimento econômico. Os números mostram que existem 124 milhões de latino-americanos na linha da pobreza. Mais de um quarto deles (37 milhões) vivem em território brasileiro. Os mexicanos ficam em segundo lugar, com 25 milhões de habitantes nessa condição. Argentina, Chile e Uruguai têm uma incidência baixa de pobreza.


A ONU recomenda investimentos em infraestrutura, transporte e planejamento urbano para que a situação não seja agravada ainda mais. “Na medida em que se intensifica a urbanização, deveria haver processos de planejamento na estrutura técnica, social e econômica”, acrescenta o acadêmico Luis Antônio de Souza, mestre em planejamento urbano e regional. “Temos capacidade para superar essas desigualdades, mas isso vai depender da maneira como as nossas cidades serão planejadas daqui para frente”, diz Juciano Rodrigues.

O levantamento mostra, ainda, que o Brasil emite 23% dos gases que provocam o efeito estufa na América Latina. O percentual é igual às emissões de todos os países do Caribe somados aos quatro do Cone Sul e só é inferior à quantia emitida pelo México (30%).

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