segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Brasil do desrespeito Com os Seus

Barrados no transplante

Estudo revela que mulheres e negros são minoria entre os que recebem um novo órgão. Um dos motivos: o histórico das condições de saúde
Marília Medrado




Longo tempo de espera na fila e diferença no acesso à cirurgia entre os estados da Federação não são os únicos problemas que parte dos brasileiros enfrenta para receber um transplante. Eles ainda têm que superar a desigualdade por sexo e raça ou cor, mesmo o Brasil tendo um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos do mundo. Segundo um novo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os negros e as mulheres têm menos acesso aos transplantes de coração, pulmão, fígado, pâncreas e rim. Em contrapartida, homens e pessoas da cor branca são os principais receptores.


No País, a quantidade de homens e mulheres é semelhante – 49% e 51%, respectivamente –, assim como a população de brancos e não brancos. Apesar disso, no caso de um fígado novo, 63% dos receptores são do sexo masculino e 37% do feminino. De cada dez transplantados, oito são da cor branca. “Todos os órgãos têm esse quadro de desigualdade. A necessidade não é maior entre os brancos, mas eles recebem mais os transplantes”, diz Alexandre Marinho, um dos autores do estudo e técnico em Planejamento e Pesquisa do Ipea. Entre os que ganham um coração, 75% são homens e 56%, brancos. Na cirurgia de pâncreas, 93% dos transplantados possuem pele clara. No caso do pulmão, 35% são mulheres e só 5%, negros.


Marinho aponta as condições de saúde dos pacientes na hora da cirurgia como um dos principais obstáculos. É preciso uma série de exames clínicos, remédios e alimentação adequada para realizar um transplante. “No mundo todo, a maioria da população pobre é composta por negros e mulheres, que vivem em piores condições. Sem ter procedimentos de atenção básica, essas pessoas não estão aptas para receber o novo órgão”, diz.


Segundo Marinho, a população menos assistida, sem condições de pagar plano de saúde e ter acompanhamento médico adequado, tende a sofrer mais com diabete, hipertensão e alcoolismo, quadros que podem culminar na necessidade de novos órgãos. “Pessoas que foram prejudicadas a vida toda também sofrem lá no final, em situações de alta complexidade, como o transplante”, completa.

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