Triste saída
Mestre da informática, Steve Jobs criou a empresa com a marca mais valiosa do mundo, ganhou fama e fortuna, tornou-se um dos homens mais poderosos e influentes. Agora tem de sair de cena para cuidar de um câncer no pâncreas
Gisele Brito e Kátia Mello

“Esse tipo de câncer neuroendócrino é raro, e a sobrevida de um paciente com esse diagnóstico é de 2 anos e meio a 3 anos. Se descoberto no início, pode ser retirado com cirurgia e curado. Ele causa desequilíbrios hormonais, perda de peso, dores abdominais, cansaço. Não conheço exatamente o quadro clínico de Jobs, mas, pelo que vemos na imprensa, ele já sofreu um transplante de fígado, que não adiantou, e a doença está em um estágio avançado”, explica a médica oncologista Raquel Riechelmann, do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp).
Considerado por muitos um gênio da tecnologia, Jobs revolucionou a computação moderna diversas vezes. A primeira em 1977, quando lançou o primeiro computador portátil para uso doméstico, e outras tantas nos anos 2000, quando deslanchou a criar tendências de mercado consolidadas, como o iPod ou o iPad (confira a linha do tempo).
“A grande sacada da Apple foi se preocupar em fazer computadores acessíveis às pessoas. O computador não é inteligente, ele só faz o que é programado para fazer. A inteligência que ele transmite depende da percepção de quem o programou. E o Jobs foi o cara que mais teve essa preocupação de tornar os computadores funcionais”, defende o professor Daniel Couto Gatti, chefe do departamento de computação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Dentro da Apple, Jobs é ao mesmo tempo amado e temido. Tinha fama de ter um temperamento explosivo e perdeu colaboradores importantes por isso. Também era acusado de ser ególatra, de demitir pessoas sem motivo, de ser obsessivamente perfeccionista (o iPhone demorou 3 anos para ficar pronto por conta desta obsessão), mas era capaz de momentos de delicadeza inesperados e de abrir os trabalhos para diálogo.
Em 1985, quando saiu da Apple (antes que o demitissem), era considerado “improdutivo e incontrolável”. O que os chefes não conseguiam ver naquela época é que a função de Jobs era adiantar tendências, não sentar e criá-las de punho. Segundo um dos seus biógrafos não autorizados, Leander Kahney, Jobs “é um obsessivo temperamental que construiu uma série de parcerias produtivas com gênios criativos”. Ele trabalhou com gente criativa e sabia fazer propaganda dos produtos dele, torná-los irresistíveis.
“Jobs foi uma figura inspiradora tanto para dentro da Apple quanto para fora. Ele fez com que os funcionários dele buscassem a inovação e com que as pessoas desejassem esses produtos. Grande comunicador, agregou valor a produtos que podem nem ser os melhores do mercado, mas marcam um estilo de vida”, defende o professor Julio Moreira, da Escola Superior de Propaganda e Marketing. “A forma como ele trabalhava motivava as pessoas a trabalhar mais, a buscar mais inovações. Com a saída dele as coisas podem ficar diferentes, mas muito se falou quando o Bill Gates deixou a Microsoft, e ela continuou existindo”, complementa o professor Gatti.
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