sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sou brasileiro: viajar é comprar

Economia estável e dólar baixo alavancam a fama de turista gastador. Novo sacoleiro traz do exterior mais eletrônicos, roupas de grife e produtos que aqui são caros. Compras lá fora batem recorde: R$ 6,9 bilhões




A cada pouso a cena se repete. Os rostos felizes em função do retorno ao País em meio a gestos atrapalhados pelo peso dos carrinhos que carregam malas e mais malas cheias de eletrodomésticos, eletrônicos, roupas e outros tipos de itens comprados no exterior. Nos primeiros 2 meses desse ano, os gastos feitos durante viagens fora do País bateram recorde e chegaram a US$ 3,7 bilhões, o equivalente a R$ 6,9 bilhões. Além da valorização do real, impostos e custos de fabricação mais baixos fazem com que alguns produtos comprados lá fora saiam por menos da metade do preço.


O empresário Ricardo Martinez conta que comprou praticamente todo o enxoval do filho que está prestes a nascer em suas viagens ao exterior. "Dessa vez só trouxe o carrinho, porque antes já havia trazido outros itens", conta.


A professora de educação física Gabriela Bacelle também aproveitou a viagem para trazer presentes para seu filho, de apenas 9 meses. "Eu queria comprar esse carinho, mas aqui ele custa muito caro. Lá paguei o equivalente a R$ 120 reais. É um absurdo a diferença", diz, indignada, ao desembarcar de uma viagem de 10 dias para Boston, nos Estados Unidos.


"Dá vontade de comprar tudo", conta Roger Takara, cercado por malas. Ele viajou com um grupo de amigos e familiares por diversos parques norte-americanos. "Só não trouxe um carro porque não cabia na mala. Os parques foram pretextos para comprar", brinca. O estudante Matheus Takara aproveitou para comprar raquetes de tênis. Ele conta que pagou US$ 134 em cada uma delas, o equivalente a cerca de R$ 245. No Brasil, elas custariam entre R$ 650 e R$ 700. A cabeleireira Harumi Nadire, que também viajou com o grupo, conta que comprou até liquidificador. "Tudo vale muito a pena. Pagamos um pouco de excesso de bagagem, mas ainda assim compensou", afirma.


Nos últimos anos, a renda dos brasileiros aumentou. Mais pessoas passaram a consumir serviços, produtos eletrônicos e alimentícios que antes só eram acessíveis a um grupo econômico bem restrito. Com mais dinheiro no bolso, os brasileiros também passaram a viajar mais e a comprar cada vez mais no exterior. Além dos bens materiais que trazem nas malas, há gastos com coisas que não podem ser transportadas em aviões, como imóveis: os brasileiros são os principais compradores de imóveis acima de US$ 1 milhão em Miami, nos Estados Unidos. O consumo dos "brazucas" inclui ainda lazer e alimentação, como indica o empresário Stélio Robusti: "Não compramos muitos eletrônicos, mas nos divertimos muito. Você fica em hotéis maravilhosos que, às vezes, são mais baratos que os do Brasil. Ou seja, muitas vezes compensa mais você fazer uma viagem ao exterior do que viajar por aqui", acredita. Robusti passou 10 dias com a mulher em Las Vegas e, além dos gastos com diversão, também aproveitou para comprar roupas.


Tudo tem limite


Apesar das facilidades para comprar, é preciso lembrar que a Alfândega impõe limites. Apenas nos 3 primeiros meses deste ano foram apreendidos bens com valores correspondentes a R$ 405,4 milhões.




O Brasil vai bem, mas...


"O fato de estar consumindo mais é o resultado do sucesso da economia brasileira. As pessoas entram no supermercado e produtos que antes nem pensavam passam a ser possíveis. Esse é o lado positivo. O negativo é que quanto mais importamos, menos consumimos o que é produzido aqui. E isso afeta a produção nacional e gera desemprego", diz o economista Antonio Carlos Alves dos Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica. Segundo ele, as taxas de impostos, o custo do trabalhador e a logística do País produzem um elevado "custo Brasil". Ele explica que as medidas lançadas pelo Governo Federal no inicio do mês para incentivar vários setores industriais a se tornarem mais competitivos, em tese, favorecem a produção interna, o que leva à redução da diferença de preços. Mas ele vê esse tipo de medida com ressalvas. "O que se está fazendo é diminuir os impostos que essas empresas pagam. Mas o governo vai buscar essa verba de outras fontes. E aí, quem vai pagar essa diferença?", provoca.


O economista alerta para a necessidade de investimentos em infraestrutura, o que aumentaria a eficiência da produção no País. "Como se faz para distribuir produtos sem uma rede ferroviária ampla e eficiente, e com estradas esburacadas e portos destruídos?"

Fonte: F.U

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