sexta-feira, 27 de julho de 2012

Que se fundam à vontade

Edmilson Lucena

Políticos são seres com um instinto de sobrevivência impressionante. Pulam da oposição para a situação sem o menor pudor, posam para fotos sorrindo ao lado de velhos inimigos, não se envergonham de agir como metamorfoses ambulantes. Nessa toada, uma nova modalidade adaptativa está prestes a ser resgatada: a fusão de partidos.

Três dias depois de o Brasil parir sua 30.ª legenda, o Partido Ecológico Nacional (PEN), o presidente do PMDB, Valdir Raupp, vazou à imprensa as negociações sobre a união de seu partido com outros seis. Matreiro, o senador rondoniense fez questão de não abrir o bico sobre quem são eles. Um, com certeza, é o DEM. Os outros seriam PP, PR e mais dois nanicos ainda não identificados. Há suspeitas de que o sexto elemento é o PSDB. 

Fazendo contas rápidas, isso significa que os peemedebistas podem simplesmente dizimar a oposição ao governo Dilma Rousseff. Sem o PSDB e o DEM, sobrariam apenas nove deputados federais do PPS e três do PSol para se contrapor à presidente. Ou seja, uma relação absurda de 43 governistas para cada oposicionista (hoje essa proporção é de quase um para seis, o que também não é lá muito saudável).

Nos bastidores do Congresso, as opiniões sobre esses acordos são parecidas: é notícia para preencher espaço nos jornais durante o recesso parlamentar. No meio, é difícil acreditar que os caciques de partidos tradicionais vão topar compartilhar poder, por menor que ele seja atualmente. Por outro lado, nos corredores do Parlamento sabe-se bem que cada notinha vazada para os repórteres tem um fundo de verdade.

Nesse caso, a realidade é que muita gente ligou o sinal de alerta máximo. Minado pelos escândalos Arruda e Demóstenes, o DEM (ex-PFL) não para de encolher. Partidos médios, PP e PR também estão fadados a perder espaço. Na luta pela sobrevivência, sobram duas alternativas. A primeira é lançar novas siglas, como o PSD e o PEN, e esvaziar as outras até que elas virem “fantasmas”. A outra é a fusão.

Nenhuma delas leva muito em consideração o espírito público ou a consolidação dos valores democráticos. As fusões, no entanto, parecem bem mais racionais porque eliminam os rabichos de legendas que continuam em funcionamento apenas para abocanhar mais um pouquinho de dinheiro público. Além disso, são um choque de realidade. Afinal de contas, qual a diferença ideológica entre todos esses partidos? O PP, herdeiro legítimo da Arena, deveria ser o oposto do PMDB, que é filho do MDB velho de guerra. Mas ambos estão lado a lado como reles acessórios de uma gestão petista.

Valdir Raupp disse recentemente que ninguém aguenta mais tanto partido político no Brasil, justificando os planos de união. Ele tem toda razão. Não que o modelo bipartidário norte-americano seja o ideal para o país, mas o sistema ficaria bem mais são com no máximo oito siglas. Menos partidos também significaria menos barganhas, menos vendas de apoios eleitorais e, por consequência, de coligações “Frankenstein”. Também seria, é claro, um processo de despoluição do debate de ideias. Só isso já vale a aposta de fundir-se à vontade.

 

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