Maior produtor mundial de cana-de-açúcar, País investe cada  vez mais em máquinas. Cortadores que antes sofriam com o trabalho  pesado, quase escravo, agora temem o desemprego: 100 mil deles serão  demitidos até 2014, diz entidade
Da redação | Arte: Edi Edson
 Nos  campos brasileiros, uma das "meninas dos olhos" da agroindústria  nacional tem nome e sobrenome: cana-de-açúcar. Hoje, o País é o maior  produtor mundial da matéria-prima a partir da qual se fabrica o açúcar, o  etanol e a bioenergia. Só este ano, a receita gerada pela exportação  dos dois primeiros produtos da cana deve chegar a R$ 32,5 bilhões,  segundo estimativas da Datagro, uma das principais consultorias de  açúcar e etanol do País.
Nos  campos brasileiros, uma das "meninas dos olhos" da agroindústria  nacional tem nome e sobrenome: cana-de-açúcar. Hoje, o País é o maior  produtor mundial da matéria-prima a partir da qual se fabrica o açúcar, o  etanol e a bioenergia. Só este ano, a receita gerada pela exportação  dos dois primeiros produtos da cana deve chegar a R$ 32,5 bilhões,  segundo estimativas da Datagro, uma das principais consultorias de  açúcar e etanol do País.O uso do etanol de cana-de-açúcar e da  bioletricidade também reduz as emissões de gases do efeito estufa,  responsáveis pelo aquecimento do planeta, o que coloca o Brasil em  posição de destaque em tempos no qual o mundo busca conciliar, mesmo a  passos curtos, o desenvolvimento econômico com a preservação do meio  ambiente.
A realidade,  no entanto, é amarga para os cortadores de cana, às custas de quem o  País se tornou mais próspero, mas cujo trabalho está sendo substituído  por máquinas. "Até 2014, calculamos que mais de 100 mil trabalhadores  perderão seus postos de trabalho no cultivo da cana-de-açúcar", diz  Antônio Lucas Filho, diretor da Secretaria de Assalariados da  Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Segundo  ele, apesar da grande expansão da área plantada no País, quase 80 mil  postos de trabalho já foram extintos entre 2007 e 2010 por causa da  mecanização.
 A  partir de 2014, estará proibido o uso de fogo nas lavouras mecanizáveis  de São Paulo, Estado que representa mais da metade da produção  nacional. Nas áreas não mecanizáveis, o prazo é 2017. A região  Centro-Sul é a principal produtora da matériaprima, seguida pelo  Nordeste, que concentra apenas 10% da produção nacional. A queima da  palha da cana permite o corte manual da planta, mas traz prejuízos à  saúde e ao meio ambiente. Por isso, a necessidade de se mecanizar a  colheita.
A  partir de 2014, estará proibido o uso de fogo nas lavouras mecanizáveis  de São Paulo, Estado que representa mais da metade da produção  nacional. Nas áreas não mecanizáveis, o prazo é 2017. A região  Centro-Sul é a principal produtora da matériaprima, seguida pelo  Nordeste, que concentra apenas 10% da produção nacional. A queima da  palha da cana permite o corte manual da planta, mas traz prejuízos à  saúde e ao meio ambiente. Por isso, a necessidade de se mecanizar a  colheita.As medidas  fazem parte do "Protocolo Agroambienal do Setor Sucroenergético",  documento assinado entre o governo paulista e a União da Indústria de  Cana-de-Açúcar (Unica), entidade representativa das principais unidades  produtoras de açúcar e etanol da região Centro-Sul. "Outros Estados  também têm leis nesse sentido", diz Lucas Filho, da Contag.
O assessor de  responsabilidade ambiental da Unica, Danel Lobo, aponta os benefícios da  mecanização. "Em 2006, o Estado de São Paulo tinha 1 milhão de hectares  colhidos sem o emprego do fogo. Em 2012, são mais de 3 milhões", diz. O  diretor da Contag tem outra visão sobre o assunto. "O trabalho no  cultivo da cana é difícil, mas é de onde os cortadores garantem o  sustento da família. A mecanização acelerada está acontecendo com total  descompromisso com os trabalhadores, que estão ficando sem emprego",  reclama Lucas Filho.
 A  substituição do corte manual da cana acontece gradativamente há algum  tempo. O aposentado Laerte Alves Dias, de 64 anos, faz parte das  estatísticas. Ele, que por mais de duas décadas trabalhou no corte de  cana em Goiás, viu seu trabalho ser substituído por colhedoras  automáticas. "É preciso se acostumar com a discriminação da empresa. O  maquinário está muito evoluído e o trabalhador fica para trás."
A  substituição do corte manual da cana acontece gradativamente há algum  tempo. O aposentado Laerte Alves Dias, de 64 anos, faz parte das  estatísticas. Ele, que por mais de duas décadas trabalhou no corte de  cana em Goiás, viu seu trabalho ser substituído por colhedoras  automáticas. "É preciso se acostumar com a discriminação da empresa. O  maquinário está muito evoluído e o trabalhador fica para trás."Os tratores e  colhedoras trouxeram a necessidade de um novo tipo de mão de obra para  os canaviais, mais especializada, como motoristas, operadores,  eletricistas e mecânicos. Entre os especialistas ouvidos pela  reportagem, a opinião é unânime: os cortadores precisam ser  requalificados e capacitados para assumir novas funções.
De acordo com a  Unica, cada máquina que entra no campo emprega, em média, 18 pessoas.  Para suprir essa demanda de mão de obra, que está em falta no mercado,  as próprias usinas dizem ter projetos para requalificar os cortadores.  "Desde 2009, mais de 20 mil trabalhadores já foram capacitados e mais de  70% deles já estão nas novas funções em São Paulo", diz Maria Luiza  Barbosa, gerente de Responsabilidade Social Corporativa da Unica.  Segundo ela, outros programas capacitam os cortadores para atuar fora  das usinas.

No entanto, as  máquinas demitem mais do que recontratam. Elas fazem o trabalho de  cerca de 80 homens. "Não acredito que todos os trabalhadores sejam  reaproveitados, mas o maior número possível", diz Maria Luiza. A  tendência é que, nessa conta, os menos qualificados fiquem de fora.  "Cerca de 70% dos trabalhadores rurais não concluíram o ensino  fundamental", lembra Lucas Filho.
A maior parte  dos cortadores são homens jovens, com baixa escolaridade, migrantes do  Nordeste do País, muitos deles do Maranhão e do Piauí, que buscam a  sobrevivência no cultivo da cana. Salário fixo mínimo, equipamentos de  proteção, transporte seguro, água, banheiro e almoço à sombra foram  alguns dos direitos conquistados com muita dificuldade ao longo de  décadas.

"Mais de 90%  dos trabalhadores têm registro em carteira em São Paulo. Isso não  significa melhores condições em termos do esforço que é exigido em  relação à produção", diz Maria Aparecida de Moraes Silva, professora da  Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), que realiza pesquisas sobre  os migrantes cortadores de cana.
"As usinas  exigem uma média mínima de produção de 10 toneladas por dia. Se o  trabalhador não conseguir, corre o risco de perder o emprego", afirma  ela, acrescentando que a força de trabalho de um cortador se esgota em  15 anos. "De 2004 a 2011, foram registradas 22 mortes, supostamente por  exaustão nos canaviais paulistas", diz.
Segundo a  Contag, o salário mensal pelo corte da cana depende da quantidade,  região e tipo de cana, e varia de R$ 700 a R$ 1 mil. Com a modernização  da lavoura, a dura rotina dos canaviais deve desaparecer, e com ela a  profissão de cortador de cana-de-açúcar.

À espera de uma vida melhor
 Embora  sejam minoria nos canaviais, as mulheres também empunham os facões.  Para elas, ter força física não basta. Além do ofício exaustivo, essas  cortadoras de cana vivem diversas situações de sofrimento na vida. É o  que revela a pesquisa "Contexto de vida e trabalho de mulheres  cortadoras de cana-de-açúcar", que analisou a rotina de 10 trabalhadoras  de Guariba, na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.  "Elas estão expostas à violência doméstica, ao alcoolismo em família,  têm dificuldade para cuidar dos filhos e adoecem por causa do corte de  cana", explica a assistente social Vânia Cláudia Spoti Caran, autora do  estudo.
Embora  sejam minoria nos canaviais, as mulheres também empunham os facões.  Para elas, ter força física não basta. Além do ofício exaustivo, essas  cortadoras de cana vivem diversas situações de sofrimento na vida. É o  que revela a pesquisa "Contexto de vida e trabalho de mulheres  cortadoras de cana-de-açúcar", que analisou a rotina de 10 trabalhadoras  de Guariba, na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.  "Elas estão expostas à violência doméstica, ao alcoolismo em família,  têm dificuldade para cuidar dos filhos e adoecem por causa do corte de  cana", explica a assistente social Vânia Cláudia Spoti Caran, autora do  estudo.Como saem  ainda de madrugada para trabalhar nos canaviais, as cortadoras não  conseguem levar os filhos às creches e comprometem parte de sua renda  com o pagamento de alguém que zele pelos pequenos. "Uma,  especificamente, decidiu levar os dois filhos para adoção, pois não  tinha quem cuidasse", conta Vânia.
Com a  proibição do uso do fogo nos canaviais a partir de 2014, o trabalho  tende a ficar ainda mais difícil. "Elas têm que lidar com animais  peçonhentos. Além disso, o corte da cana crua leva a uma produtividade  menor e esforço maior", diz a assistente social, acrescentando que uma  de suas entrevistadas relatou ter cortado 28 toneladas de cana em um  único dia.
"Elas desejam ter a casa própria e dar estudo aos filhos. Nenhuma quer que eles sejam cortadores de cana", diz Vânia.
 
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