quarta-feira, 25 de julho de 2012

O vale Tudo Por Um Mandato

Edmilson Lucena

Em político sem mandato nem o vento bate nas costas. Não há verdade maior do que esta. Desaparecem os bajuladores, as bocas-livres e até o interesse da imprensa.
Mas será que isso é tão importante na vida de uma pessoa normal? Bem, políticos não são pessoas normais. O exercício do poder vicia, é uma “cachaça”, como muitos deles gostam de exemplificar.

Por isso estranhei a renúncia do vereador Geraldo Amorim (PDT), formalizada há alguns dias. Ele não concordou com a intervenção autoritária da direção estadual pedetista na escolha do candidato à prefeitura de João Pessoa. Ele foi escolhido, inicialmente como candidato, mas a escolha foi anulada e o partido indicou, de cima para baixo, o nome da candidata do PSB, Estelizabel Bezerra, como a opção para a prefeitura. 

Ele abandonou a vida pública em tempos de cassação do paladino da ética no Senado, Demóstenes Torres. Afinal, é sempre mais dramático ver alguém saindo enxotado do que por conta própria. Aliás, teria sido bem mais digno da parte de Demóstenes caso ele tivesse dado uma banana aos colegas que o cassaram.

Se ele tem mesmo a consciência tranquila sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira, era só ir ao plenário e enumerar um a um os podres dos parlamentares que queriam sua cabeça. Mas Demóstenes fez o contrário. Só faltou se ajoelhar quando pediu desculpas por seu passado belicoso na tribuna.

No Parlamento, os Amorim são exceção e os Demóstenes são a regra. É só dar uma olhada na trajetória dos caciques da política nacional. José Sarney começou a carreira em 1954 como suplente de deputado federal e depois nunca mais largou o osso.

Dominado por ex-governadores, o Senado é como um cemitério de elefantes. Gente que quer usar o espaço como trampolim para pular de volta para o Executivo. São os políticos profissionais.

Em sua defesa, eles dizem aos quatro ventos que estão lá por desejo do povo. Não é bem assim.

O fato é que eles usam o poder do mandato para dominar as estruturas partidárias, construir projetos em torno de si e evitar as possibilidades de renovação. Muitos posam de líderes democráticos, mas na verdade estão sequestrando o que há de bom na democracia. O resultado é que você tem o direito de votar, mas apenas nos candidatos escolhidos pelos outros.

Nesse cenário, desapego é artigo de luxo. Quem entrou na roda, não quer mais sair. Raramente, por espírito público. É por falta de opção de trabalho no mundo real mesmo.

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