domingo, 26 de agosto de 2012

A força Que Te Move

Não importa se o alvo a ser alcançado é um bem material ou a felicidade. Especialistas no assunto dizem que motivação é uma decisão individual e a verdadeira é aquela que mexe com o coração

Raul Andreucci | Arte: Eder Santos



Pode procurar no dicionário o significado de motivação que não adianta. Cada um leva consigo a interpretação que bem entende. Até quem trabalha com o tema, direta ou indiretamente. Alguns acreditam que nasce de dentro do peito, outros que precisa de um empurrãozinho de fora. Há quem fale em automotivação. E quem veja tudo isso interagindo numa mesma lógica. A única certeza, talvez a mais simples, é de que a motivação move as pessoas em busca de algo. “Motivação é a pessoa saber o que a faz feliz. A diferença está até em como cada um define a sua”, resume Fábio Zugman, autor de livros sobre empreendedorismo e estudioso do tema. 

Francisco Dantas, de 26 anos, é daqueles para quem a palavra não é fácil de explicar – ou entender. Quando questionado pela reportagem da Folha Universal como andava sua motivação, coçou a cabeça, pensou e soltou um: “Boa...” Contou que se motivava para seguir com saúde, trabalhando, firme na luta. Quando falamos em sonho, envergonhado, ele confessou que, desde que chegara de Cajazeiras, no interior da Paraíba, onde está toda a sua família, queria fazer uma faculdade, “de administração”. Ainda mais tímido, olhando para o chão, sussurrou. “É que falta tempo, tudo é caro aqui...”.



Dantas tem sorte. Apesar da dificuldade em concretizar sua meta, batalha firme com seu carrinho de pipoca. O problema da maioria é, primeiro, encontrar a motivação. Os palestrantes, com piadas, malabarismo e frases de efeito, costumam fazer uma associação superficial, com o desejo de posse: casa, carro, viagem. E vale. Mas também pode ser um corpo mais bonito, o conhecimento de língua, vida mais tranquila e saudável. Ou o que quiser. “Você tem um determinado estímulo ou ideia que vai gerar a ação em busca de determinado objetivo. Para isso, a mente mobiliza o corpo para que aquilo seja alcançado”, explica Ricardo Monezi, psicobiólogo e pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Parece fácil colocar a energia em um norte, até porque ofertas tentadoras não faltam. Várias são nobres, inspiram respeito, fama, e muitas são tradicionais, têm caminho já conhecido. Só uma motivação verdadeira, porém, se sustenta. “Às vezes queremos fazer as coisas para os outros e não por nós. E nem percebemos. Chega uma hora que o seu ser interior não aguenta e diz ‘se quer ir em frente, vai, mas eu estou fora’. A gente se ilude, quer ser aceito, e não se dá conta disso”, aconselha Leila Navarro, empresária e palestrante motivacional. “A motivação real mexe com o coração”, acrescenta seu colega, o palestrante corporativo Rodrigo Cardoso. 



Para Liliana Wahba, psicóloga e professora da PUC-SP, é mesmo comum as pessoas se perderem na busca. “Parece óbvio, mas a pessoa às vezes nem consegue saber o que faz falta na vida delas. Às vezes precisa de mais estímulo, brigar mais, no bom sentido, ter mais amigos, e não sabe como fazer”, analisa. “Amigos, terapeutas espirituais ou de consultório podem ajudar. E o melhor instrumento que se tem é a própria bússola”, ensina a psicóloga.

A aposentada Regina Marabesi, de 66 anos, descobriu da pior maneira que sua motivação era, também, cuidar de si própria. Antes da morte do marido Adalberto, por causa de um câncer fulminante, em março, era ele sua principal razão de vida. Agora, como boa mãe, a motivação tende a ser os dois filhos, já adultos. Mas ressalta que, graças à terapia, aprendeu que também pode receber – em vez de só dar. “Minha motivação é viver o dia a dia, curtir as pequenas coisas, com saúde e cabeça boa. Ir ao cinema e caminhar no parque, por exemplo”, conta, ao lado da cachorra Ghamina, na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo (SP).

O importante é saber que não há fórmula mágica. “Cuidado com essa relação simplista, de achar que é só fazer uma coisa e tudo vai ficar bem para sempre. Ninguém está bem o tempo todo. A vida vem com problemas e alterna entre altos e baixos”, diz Zugman. A manicure Dalvanira Guedes, de 47 anos, que o diga. Ela passou por três Estados (Paraíba, Paraná e São Paulo), sempre motivada por um emprego melhor para o marido. Só conseguiram na capital paulista, onde estão há 13 anos, quando ele se empregou como zelador. “Já sofri um pouquinho, né?”, resigna-se. Agora, as forças estão voltadas para a filha, Talita. 

Dalvanira, até onde se sabe, escapou da desmotivação a que todos estamos sujeitos, inclusive na hora de se automotivar. “Precisa ter é o equilíbrio para se motivar na medida certa, enxergando os próprios limites, para não prever objetivos muito grandes, impossíveis. Porque, toda vez que não se chega lá, pode vir frustração, ansiedade e depressão”, argumenta Monezi, da Unifesp. “Vencer a batalha mais difícil, a que vale a pena, é contra si mesmo”, lembra Cardoso. “As pessoas podem muito mais do que imaginam”, conclui.

Por isso, a preocupação com as palestras motivacionais em âmbito profissional. Cheias de firulas, hoje até com malabarismo e ilusionismo, podem passar conceitos importantes, mas tem também um quê de contraproducente. “Os apresentadores são habilidosos e as pessoas tiram um momento do dia para conversar, descontrair. Quando voltam ao trabalho, podem ir da euforia à queda”, avisa Zugman. “Falhar em alguma das atividades da palestra ainda pode ser massacrante e, aí, o risco é de criar uma nova ferida”, completa Liliana Wahba.

De todos os entrevistados, Maicon Alvez foi o único que não titubeou. Quando questionado sobre sua motivação, respondeu seco e convicto: “Música”. O técnico têxtil de 25 anos é também guitarrista, integrante da banda Chaos Incorporated, e quer – por que não – “viver disso”. Um exemplo de que o sentimento está ali, na ponta da língua. É só deixar vir. Mais simples do que qualquer explicação. “Encontre algo que te emocione”, sugere Monezi.

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